sábado, 24 de outubro de 2009

“NOVELA LITERÁRIA” NO BLOG: “A HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA” DE JORGE LUIS BORGES III

Antes de mais nada gostaria de pedir desulpas aos meus amigos que seguem e acessam o blog pelo atraso no terceiro capítulo do conto O ATROZ REDENTOR LAZARUS MORELL de Jorge Luis Borges mas tive que editar textos sobre pesquisas que no momento conjuntural eram fundamentais.
Para quem não leu todo o conto é só acessar:

A PARTIR DE HOJE, ALEM DAS ANALISES, TEM “NOVELA LITERÁRIA” NO BLOG E A PRIMEIRA É “A HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA” DE JORGE LUIS BORGES. CURTAM.

Depois acessar:

“NOVELA LITERÁRIA” NO BLOG: “A HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA” DE JORGE LUIS BORGES II

Finalmente a última parte deste fantástico conto O ATRÓZ REDENTOR LAZARUS MORELL



A INTERRUPÇÃO

Morell capitaneando bandos de negros que sonhavam enforcá-lo, Morell enforcado por exércitos negros que sonhava capitanear – sinto confessar que a história do Mississipi não aproveitou essas oportunidades suntuosas. Contrariamente a toda justiça poética (ou simetria poética), tampouco o rio de seus crimes foi sua tumba. A dois de janeiro de 1835, Lazarus Morell faleceu de congestão pulmonar no hospital de Natchez, onde se fizera internar com o nome de Silas Buckley. Um companheiro da enfermaria geral reconheceu-o. A dois e a quatro quiseram sublevar-se os escravos de certas plantações, mas foram reprimidos sem maior efusão de sangue.


A CATÁSTROFE

Servido por homens de confiança, o negócio tinha de prosperar. Em princípios de 1834, uns setenta negros já tinham sido "emancipados" por Morell, e outros dispunham-se a seguir esses precursores ditosos. A zona de operações sendo maior, era necessário admitir afiliados. Entre os que prestaram juramento havia um rapaz, Virgil Stewart, de Arkansas, que se destacou desde logo pela crueldade. Era ele sobrinho de um fazendeiro que perdera muitos escravos. Em agosto de 1834, rompeu seu juramento e delatou Morell e os outros. A casa de Morell em Nova Orleans foi cercada pela Justiça. Morell, por imprevisão ou suborno, pôde escapar.
Três dias passaram. Morell esteve escondido esse tempo numa casa antiga, de pátios com trepadeiras e estátuas, na rua Toulouse. Parece que se alimentava pouco e ficava a passear descalço pelos grandes dormitórios escuros, fumando pensativos cigarros. Por um escravo da casa remeteu duas cartas à cidade de Natchez e outra a Red River. No quarto dia entraram na casa três homens que com ele ficaram discutindo até amanhecer. No quinto, Morell levantou-se quando escurecia e pediu uma navalha e fez cuidadosamente a barba. Vestiu-se e saiu. Atravessou com lenta serenidade os bairros do Norte. Já em pleno campo, costeando as terras baixas do Mississipi, andou mais depressa.
Seu plano era de uma coragem bêbada. Pensava aproveitar os últimos homens que ainda lhe prestavam reverência: os serviçais negros do Sul. Estes haviam visto fugir seus companheiros e não os haviam visto voltar. Acreditavam, portanto, em sua liberdade. O plano de Morell era o de uma sublevação total dos negros, a tomada e o saque de Nova Orleans e a ocupação de seu território. Morell, caído e quase desfeito pela traição, meditava uma resposta continental: uma resposta em que o criminoso se exaltava até a redenção e a história. Dirigiu-se com esse fim a Natchez, onde estava mais enraizada sua força. Copio sua narração dessa viagem:
"Caminhei quatro dias antes de conseguir um cavalo. No quinto, descansei próximo a um riacho para abastecer-me de água e sestear. Estava sentado num tronco, olhando o caminho percorrido até então, quando vi aproximar-se um cavaleiro numa montaria escura de bom aspecto. Assim que o vi, determinei tomar-lhe o cavalo. Pus-me de pé, apontei em sua direção uma bela pistola de tambor e dei-lhe ordem para apear. Assim o fez, e tomando na canhota as rédeas, mostrei-lhe o riacho e ordenei que caminhasse adiante. Andou umas duzentas varas e se deteve. Ordenei que se despisse. Então me disse: "Já que está resolvido a me matar, deixe-me rezar antes de morrer". Respondi que não tinha tempo de ouvir suas orações. Caiu de joelhos e lhe disparei um balaço na nuca. Abri-lhe o ventre com um talho, arranquei-lhe as vísceras e afundei-o no riacho. Em seguida, revistei-lhe os bolsos e encontrei quatrocentos dólares e trinta e sete centavos e uma quantidade de papéis que não me demorei lendo. As botas eram novas em folha e me serviam. As minhas, que estavam muito gastas, joguei-as no riacho.
"Assim obtive o cavalo de que precisava para entrar em Natchez."

A INTERRUPÇÃO

Morell capitaneando bandos de negros que sonhavam enforcá-lo, Morell enforcado por exércitos negros que sonhava capitanear – sinto confessar que a história do Mississipi não aproveitou essas oportunidades suntuosas. Contrariamente a toda justiça poética (ou simetria poética), tampouco o rio de seus crimes foi sua tumba. A dois de janeiro de 1835, Lazarus Morell faleceu de congestão pulmonar no hospital de Natchez, onde se fizera internar com o nome de Silas Buckley. Um companheiro da enfermaria geral reconheceu-o. A dois e a quatro quiseram sublevar-se os escravos de certas plantações, mas foram reprimidos sem maior efusão de sangue.

Eis como geralmente terminam alguns canalhas, atenção vem ai o próximo fantástico conto de Jorge Luis Borges do livro A HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA; O IMPOSTOR INVEROSSÍMIL TOM CASTRO.

Até a próxima analise, crítica ou conto.

Flávio Luiz Sartori

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