segunda-feira, 16 de novembro de 2009

SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA I: A HISTÓRIA “OFICIAL” DO BRASIL TINHA TRANSFORMADO ZUMBI EM UM RADICAL, SUA FIGURA ERA ASSOCIADA A UM FANTASMA.

Meu primeiro contato com a história de Zumbi e de Palmares aconteceu ainda nos anos setenta nas aulas de história a partir da antiga 5ª Série. Apesar dos professores

de história não omitirem o fato da existência de Palmares e de Zumbi, a idéia dominante passada por eles era a que a escravidão no Brasil tinha acabado quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea em 1.888.


Já no final dos anos setenta, quando comecei a me interessar por história comprei a Coleção Grandes Personagens e em um dos fascículos foi contada a história de Zumbi dos Palmares.

Assim mesmo o texto induzia a interpretação de que Zumbi tinha sido um radical que não quis aceitar um acordo com a Coroa Portuguesa, que preferiu a guerra e acabou por levar Palmares a destruição.




Na realidade o que aconteceu foi que a partir do início do século XVII a população de negros colocados no trabalho escravo já era muito grande no Brasil, principalmente no Nordeste onde ficavam os principais engenhos de cana de açúcar do Brasil, obviamente que os negros capturados na condição de pessoas livres na África, não aceitariam a condição de escravos no Brasil submetidos à opressão e a tirania. A Serra da Barriga, em Alagoas foi um refugio que permitiu aos negros fugidos se estabelecerem e se protegerem de constantes ataques de exércitos e milícias.

Quando começaram as invasões holandesas em 1630 a desorganização estabelecida facilitou a fuga de escravos e Palmares cresceu.

Depois da expulsão dos holandeses em 1654 era apenas uma questão de tempo para os portugueses tentarem dar um fim em Palmares. Em 1678, depois de uma série de tentativas para destruir Palmares, o Governador de Pernambuco tentou um acordo com o então Rei de Palmares Ganga Zumba, mas segundo a história Zumbi não teria aceitado e teria assumido o reinado de Palmares.

Zumbi era um negro nascido em Palmares que teria sido capturado e teria sido educado por padres até fugir e retornar a Palmares. Segundo relatos Zumbi era um excelente estrategista e dominava muita bem a arte da luta capoeira. Zumbi teria então conhecimento da real intenção dos portugueses de destruir Palmares, Zumbi viveu entre os brancos, aprendeu a falar bem o português e também o latim.

Existem também relatos sobre a presença de um mouro em Palmares que teria sido o responsável pela fortificação do quilombo. A saga desse personagem chamado de Saifudin, é contada no livro escrito pelo jornalista George Bourdouukan no livro “Capitão Mouro” (ainda esta semana, um texto só sobre este livro).

O certo é que até recentemente, no inicio deste século Palmares, Zumbi e os quilombolas da Serra da Barriga não eram assunto de massa, a mídia, salvo algumas exceções, não dava para eles o lugar merecido. A própria história oficial do estado brasileiro colocava Zumbi e Palmares em segundo plano. Para a maioria das pessoas a libertação dos escravos no Brasil tinha sido obra da Princesa Isabel e 13 de maio era a data lembrada para este fato.

Somente no início do século XXI é que o negro começou a ocupar seu verdadeiro espaço na mídia e também na história do Brasil.

Durante séculos Zumbi foi apenas uma lenda nas senzalas e em outros quilombos que existiram pelo Brasil afora, o próprio nome Zumbi deriva da palavra “nzumbi” do dialeto quimbundo que tem o significado de um ”duende”. No Brasil, principalmente entre os negros, ao longo dos anos, Zumbi significou a figura de um fantasma, que segundo a crença popular afro brasileira, assombrava as casas nas noites.

Notem como foram transformando Zumbi em uma espécie de bicho papão que deixou de ser uma lenda na luta pela liberdade para se transformar em símbolo de medo.

Graças à insistência de brasileiros que preservaram a identidade afra ao longo dos anos foi possível resgatar a figura do Zumbi líder na luta contra a opressão, de maneira que o mesmo seja hoje reconhecido como o líder que foi e não mais apenas como um fantasma.


Flávio Luiz Sartori







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