segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A PARTIR DE HOJE, ALEM DAS ANALISES, TEM “NOVELA LITERÁRIA” NO BLOG E A PRIMEIRA É “A HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA” DE JORGE LUIS BORGES. CURTAM.

Em Janeiro de 1997 depois de uma temporada em Maresias, São Sebastião, um pouco antes de entrar no ônibus que me levaria para Piracicaba, onde eu morava meu amigo Pedrão me perguntou em uma conversa sobre literatura se eu tinha lido algum texto de Jorge Luis Borges, Pedrão me falou que Borges era um mestre da narrativa curta, que seus contos eram maravilhosos e no final da conversa me emprestou o livro A História Universal da Infâmia, durante a viagem de ônibus li os contos, um atrás do outro. Naquele momento conheci o fantástico mundo de Jorge Luis Borges, conheci a narrativa perfeita combinada com a capacidade perfeita de relatar a trajetória de personagens que estão presentes e reais nosso dia a dia e que também são como que se fossem almas penadas habitando universos eternos como que se a morte fosse apenas uma passagem para uma realidade parecida com a que vivemos em um cÍrculo de vida sem fim.

Jorge Luis Borges Acevedo nasceu em Buenos Aires em 24 de Agosto de 1899, foi um escritor, poeta, tradutor, crítico e ensaísta argentino mundialmente conhecido por seus contos e histórias curtas. Dizem que ele nasceu, depois de morrer, porque ele viu, que seu sonho era próspero. E nunca mais voltou.


Com nove anos de idade escreve seu primeiro conto, "La visera fatal", inspirado em um episódio de Dom Quixote, foi um ávido leitor de enciclopédias. Dentre seus contos mais conhecidos e comentados podemos citar A Biblioteca de Babel, O Jardim de Veredas que se Bifurcam, "Pierre Menard, autor do Quixote" (para muitos a pedra angular de sua literatura) e Funes, o Memorioso, todos do livro Ficções (1944) - além de "O Zahir", "A escrita do Deus" e O Aleph (que dá seu nome ao livro de que consta, publicado em 1949). A partir dos anos 50, afetado pela progressiva cegueira, Borges passou a se dedicar a poesia.
Jorge Luis Borges faleceu em 14 de Junho de 1986 em Genebra na Suíça.

A partir de hoje o blog “Essência além da aparência” vai lançar uma idéia para os blogueiros de plantão, será algo tipo uma novela em que os capítulos serão parte de contos curtos onde a pessoa que acessar o blog irá poder ler o conto em duas ou três partes quando acessar o blog em textos intercalados com as analises, com isso pretendo tornar o blog um ambiente onde a crítica será presença constante mas não única, afinal não tenho nada pessoal contra o Ali Kamel da Globo, o Montenegro do IBOPE ou o Boris Casoy da Band, apenas sou critico da opinião deles e me coloco em um campo oposto e isso não é pessoal é profissional.

A edição de textos em partes como se fosse uma novela é parte da interação do blog com as pessoas a partir de uma concepção humana porque, na minha opinião, apesar da Globo, da Band e do PIG, a vida continua e existem muitos Jorge Luis Borges para serem curtidos.
Com vocês a seqüência de contos do memorável livro “A história universal da infâmia”. Vamos dar uma viajada no fantástico mundo de Borges a partir do primeiro conto em três capítulos; O ATROZ REDENTOR LAZARUS MORELL, na seqüência todos os contos do livro serão blogados, os mais longos em capítulos e os mais curtos em uma única parte.
Boa leitura e mandem suas críticas.

Flávio Luiz Sartori –
flavioluiz.sartori@gmail.com



O ATROZ REDENTOR LAZARUS MORELL - Primeira Parte


A CAUSA REMOTA

Em 1517, o padre Bartolomé de las Casas compadeceu-se dos índios que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro antilhanas, e propôs ao imperador Carlos V a importação de negros, que se extenuassem nos laboriosos infernos das minas de ouro antilhanas. A essa curiosa variação de um filantropo devemos infinitos fatos: os blues de Handy, o sucesso alcançado em Paris pelo pintor-doutor uruguaio D. Pedro Figari, a boa prosa agreste do também oriental D. Vicente Rossi, a dimensão mitológica de Abraham Lincoln, os quinhentos mil mortos da Guerra da Secessão, os três mil e trezentos milhões gastos em pensões militares, a estátua do imaginário Falucho, a admissão do verbo linchar na décima terceira edição do Dicionário da Academia Espanhola, o impetuoso filme Aleluya, a fornida carga de baionetas levada por Soler à frente de seus Pardos y Morenos em Cerrito, a graça da senhorita de Tal, o negro que assassinou Martín Fierro, a deplorável rumba El Manisero, o napoleonismo embargado e encarcerado de Toussaint Louverture, a cruz e a serpente no Haiti, o sangue das cabras degoladas pelo machado dos papaloi, a habanera mãe do tango, o candombe.
Além disso: a culpável e magnífica existência do atroz redentor Lazarus Morell.



O LUGAR

O Pai das Águas, o Mississipi, o rio mais extenso do mundo, foi o digno teatro desse incomparável canalha. (Álvarez de Pineda o descobriu e seu primeiro explorador foi o capitão Hernando de Soto, antigo conquistador do Peru, que distraiu os meses de prisão do Inca Atahualpa ensinando-lhe o jogo de xadrez. Morreu, e lhe deram como sepultura as suas águas.)
O Mississipi é rio de peito largo; é um infinito e obscuro irmão do Paraná, do Uruguai, do Amazonas e do Orinoco. É um rio de águas mulatas; mais de quatrocentos milhões de toneladas de lama insultam anualmente o golfo do México, descarregadas por ele. Tanto lixo venerável e antigo construiu um delta, onde os gigantescos ciprestes dos pântanos crescem sobre os despojos de um continente em perpétua dissolução, e onde labirintos de barro, de peixes mortos, de juncos, dilatam as fronteiras e a paz de seu fétido império. Mais acima, na altura do Arkansas e do Ohio, também se alongam as terras baixas. Habita-as uma estirpe amarelenta de homens esquálidos, propensos à febre, que olham com avidez as pedras e o ferro, porque entre eles não há outra coisa senão areia e madeira e água turva.



OS HOMENS

Em princípios do século XIX (a data que nos interessa), as vastas plantações de algodão que havia nas margens eram trabalhadas por negros, de sol a sol. Dormiam em cabanas de madeira, sobre o chão de terra. Fora da relação mãe-filho, os parentescos eram convencionais e obscuros. Nomes tinham, mas podiam prescindir dos sobrenomes. Não sabiam ler. Sua enternecida voz de falsete cantava num inglês de vogais lentas. Trabalhavam em filas, curvados sob o rebenque do capataz. Fugiam, e homens de barba saltavam sobre cavalos de raça, e fortes cães de caça os rastreavam.
A um sedimento de esperanças bestiais e medos africanos haviam agregado as palavras da Escritura: sua fé por conseguinte era a de Cristo. Cantavam concentrados e em grupos: Go down Moses. O Mississipi servia-lhes de magnífica imagem do sórdido Jordão.
Os proprietários dessa terra trabalhadora e dessas levas de negros eram ociosos e ávidos senhores de melena. Habitavam imensos casarões voltados para o rio – sempre com um pórtico pseudogrego de pinho branca Um bom escravo custava-lhes mil dólares e não durava muito. Alguns cometiam a ingratidão de adoecer e morrer. Devia-se tirar dessas incertas criaturas o maior rendimento. Por isso conservavam-nos nos campos desde o primeiro sol até o último; por isso exigiam das terras colheita anual de algodão, ou fumo, ou açúcar. A terra, fatigada e manuseada por essa cultura impaciente, ficava em poucos anos exausta: o deserto confuso e enlodaçado enfiava-se pelas plantações. Nas chácaras abandonadas, nos subúrbios, nos canaviais estreitos e nos abjetos lodaçais, viviam os poor whites, a canalha branca. Eram pescadores, vagos caçadores, ladrões de cavalo. Costumavam mendigar pedaços de comida roubada aos negros e mantinham em sua prostração um orgulho: o do sangue sem tisne, sem mescla. Lazarus Morell foi um deles.

Continua amanhã, 13/10/2009 com: O HOMEM, O MÉTODO e a LIBERDADE FINAL.

Critiquem, façam sujestões.

Ainda hoje tem analises.

Flávio Luiz Sartori

Nenhum comentário:

Postar um comentário