quinta-feira, 14 de março de 2019

Canção do óbvio por Paulo Freire





Escolhi a sombra desta árvore

Para repousar do muito que farei

Enquanto esperarei por ti

Quem espera na pura espera

Vive um tempo de espera vã

Por isto, enquanto te espero

Trabalharei os campos e

Conversarei com os humanos

Suarei meu corpo, que o sol queimará;

Minhas mãos ficarão calejadas

Meus pés aprenderão o mistério dos caminhos

Meus ouvidos ouvirão mais

Meus olhos verão o que antes não viam

Enquanto esperarão por ti

Não te esperarei na pura espera

Porque o meu tempo de espera é um

Tempo de quefazer

desconfiarei daqueles que virão dizer-me,

em voz baixa e precavida:

é perigoso agir

é perigoso falar

é perigoso andar

é perigoso esperar, na forma em que esperas

porque esses recusam a alegria de tua chegada

Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me

Com palavras fáceis, que já chegaste,

Porque esses, ao anunciar-te ingenuamente,

Antes te denunciam.

Estarei preparando a tua chegada

Como o jardineiro prepara o jardim

Para a rosa que se abrirá na primavera

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