domingo, 25 de agosto de 2013

DRA. DISLENE DE LEMOS, MÉDICA GINECOLOGISTA E OBSTETRA EM FORTALEZA, CEARÁ, MOSTRA COMO A VINDA DOS MÉDICOS ESTRANGEIROS SE TRANSFORMOU EM UMA GUERRA IDEOLÓGICA.


As manifestações de junho e julho tiveram muitas consequências, que precisam ser analisadas com muito cuidado, dentre elas uma das principais foi o questionamento sobre a capacidade e a qualidade do serviço público, principalmente na área da saúde, com destaque para a falta de médicos nas cidades interioranas e nas periferias das metrópoles.  

O debate público que se seguiu às manifestações, levando em consideração a atuação forte na convocação das passeatas da mídia comprometida com o discurso da oposição (Rede Globo, Folha, Estadão e Veja) trouxe à tona sentimentos que estavam submergidos principalmente no setor da sociedade brasileira que tem origem social na classe média alta tradicional, que passaram a expressar publicamente preconceitos que circulavam somente em conversas restritas e que foram expostos, principalmente quando este setor da sociedade aderiu ás manifestações do Movimento Passe Livre e incorporou seus descontentamentos aos protestos de rua. 

Assim, o preconceito de classe em relação aos pobres da periferia e a ascensão social que esta acontecendo no Brasil na última década ficou evidente, principalmente nas redes sociais.

O texto da Dra. Dislene de Lemos desvenda uma das partes mais importantes desta guerra ideológica, com destaque para o debate decorrente da implantação do Programa Mais Médicos pelo Governo da Presidenta Dilma Roussef.


A VINDA DOS MÉDICOS ESTRANGEIROS, UMA GUERRA IDEOLÓGICA.

Dra. Dislene de Lemos - Médica Ginecologista e Obstetra.

Primeiro o que tem ocorrido nos últimos anos é uma elitização da medicina, onde os custos mensais com o curso atualmente, gira em torno de cinco a seis mil reais em faculdades particulares e ainda a grande maioria das vagas de faculdades públicas são preenchidas com estudantes egressos dos melhores e mais caros colégios. Consequentemente este médico faz parte de uma classe que não tem a necessidade de trabalhar nos rincões deste Brasil, preferindo especializar-se em longas residências, em que não estão errados.

Historicamente o interior sempre foi assistido de forma transitória por médicos recém formados em sua maioria. E que ao longo do tempo foi tornando–se figurinha rara. Poucos fixavam-se naquelas cidades. Para complicar ainda mais, o mercado da medicina está aquecido nos grandes centros. Aqui em Fortaleza vários hospitais tem dificuldades em preencher as escalas de plantão, mesmo oferecendo quantia acima de mil reais por 12 horas de trabalho. O governo do estado do Ceará tem custeado inclusive passagens aéreas para especialistas em cidades do interior como Juazeiro do Norte e Sobral. Portanto a ausência de médicos no interior do país se deve principalmente a esta elitização. Todos preferem o conforto e as melhores condições de vida que as capitais oferecem. 

A justificativa de péssimas condições de trabalho no interior, não convence, já que nas metrópoles a maioria dos hospitais públicos ou privados estão muito aquém de condições ideais. 
Do médico estrangeiro espera-se um serviço em atenção básica de saúde e todos temos consciência de que estes não são ameaça aos empregos da categoria. A qual valoriza a especialização da especialização.
Dizer-se preocupados com a saúde da população é falácia, pois pior que ser atendido por um médico sem revalida é não ter médicos. Sem falar que eles estão vindo para nos ajudar, somos nós os necessitados, somos nós que os chamamos, como exigir revalida? Além do que é sabido que muitas de nossas faculdades, apesar de caras formam muito mal nossos médicos. E que estes recebem seus diplomas imediatamente após o termino do curso.
Não podemos falar mal da medicina cubana, pois os índices revelam o quão são competentes em medicina preventiva, deixando o Brasil muito aquém de Cuba.

É sabido também que o PROGRAMA MAIS MÉDICOS, não resolverá o problema de saúde do Brasil, pois os problemas vão além de falta de médicos, mas trará alguma assistência médica básica para uma parte carente da população. 

Outro fator sem fundamento é acreditar que os médicos cubanos estão sendo escravizados. Isto é analisar a atuação destes sob o prisma consumista do capitalismo, é a visão de uma categoria com um perfil elitista de direita.

Enfim, vejo nessa guerrinha estúpida e insana, um "rancor ideológico" que não trará benefícios nenhum a categoria e nem a sofrida e carente população brasileira.


Nos dias seguintes logo após as manifestações, principalmente em julho, muitas pessoas foram as redes sociais expressar seus sentimentos de admiração a ideologia de direita e até mesmo defendendo a volta do regime militar. Muitas dessas pessoas eram próximas e do meu convívio, colegas e até mesmo parentes. Fiquei surpreendido com a atitude delas. Por isso considero que textos como o da Dra. Dislene de Lemos são fundamentais para explicar didaticamente a realidade fundamentada na história porque a maioria das pessoas, na maioria das situações, geralmente, parafraseando as sábias palavras de Jesus Cristo, "não sabem o que fazem", não sabem o que falam.

Flávio Luiz Sartori


2 comentários:

  1. Um alento, ler um depoimento sensato, inteligente, objetivo e racional de uma integrante de uma categoria que tem decepcionado por seu corporativismo fora do tom.

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  2. Lamentável que os médicos estão sendo manipulados pelos seus conselhos esquecendo a grande missão dos médicos que é valvar vidas.

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